domingo, 12 de fevereiro de 2012

Embriaga-te

Devemos andar sempre bêbados. 
Tudo se resume nisto: é a única solução. 
Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar. 
Mas com quê? 
Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto. 
Mas embriaga-te. 
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: 
"São horas de te embriagares!" 
Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! 
Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.


Charles Baudelaire

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